Nas entrelinhas: O amor depois do divórcio.

domingo, março 24, 2013



Os promotores de justiça sabem. Os juízes sabem. Os terapeutas sabem. Os massoterapeutas sabem. As faxineiras sabem. Nunca houve tanta reconciliação. Mais do que casamento e divórcio. A reconciliação é o amor autêntico. O amor bandido que se converteu à lei. O amor bêbado que largou o álcool. O amor drogado que fugiu dos vícios. A reconciliação é o amor depois das férias, recuperado da perseguição dos defeitos e da distorção das conversas. É o amor depois da mentira, depois do tribunal, depois da maldade da sinceridade, depois da carência. Casais que se prometeram o inferno, que disputaram a guarda na Justiça, que enlouqueceram os filhos com suas conspirações, decidem voltar a morar junto, para temor dos vizinhos, para o susto da parentada. A reconciliação é uma moda entre os divorciados. Mal se acostumam com o nome de solteiro e se envolvem com os mesmos parceiros. Mas os mesmos parceiros são outros. Outros novos. A distância elimina a culpa. A falta filtra a cobrança. Eles experimentaram um tempo sozinhos para descobrir que se matavam por uma idealização. Enfrentaram relacionamentos diferentes, exageros e excessos, contemporizaram os medos e as rejeições, provaram de frustrações amorosas. Viram que o príncipe se vestia mal, e o sapo coaxava bonito. Viram que não existe demônio ou santo no amor. Não existe certo ou errado, existe o amor e ponto. Este amor provisório, inconstante, inacabado e vivo. Este amor pano de prato, não toalha de mesa, mas que serve para secar a louça e as lágrimas. Quem era ciumento retorna equilibrado, quem era indiferente regressa atento. A trégua salva e refina o comportamento. O casal passa a adotar no dia-a-dia aquilo que não admitia fazer e que o outro recomendava. O que soava como crítica antigamente passa a ser conselho. Gordos emagrecem com exercícios físicos, brabos examinam seus ataques de fúria. A saudade era um recalque e se transforma em sabedoria. O par percebe que é melhor ser inexato do que inexistente. Durante a separação, ninguém aceita ressalva e exame de consciência. A separação é soberba, escandalosa, arrogante. Todos gritam e espalham os motivos da discórdia. Já a reconciliação é humilde, ouvinte, discreta. Os amantes cochicham juras e esquecem as falhas. Baixam as exigências para aperfeiçoar o entendimento. A reconciliação é o amor maduro, o amor que ressuscitou, o amor que desistiu de brigar por besteiras e intrigas. O amor que é mão dada entre o erro e o perdão. Mas que agora pretende envelhecer de mãos dadas para sempre. 

Sobre o autor: Fabrício Carpinejar  é um poeta, jornalista e professor universitário, tendo diversos livros publicados e também muito reconhecido por seus blogs. Carpinejar, como ele próprio assina, nasceu em Caxias do Sul - Rio Grande do Sul, e logo foi morar em Porto Alegre, onde cursou a faculdade de Jornalsismo na Universidade Federal do Rio Grande do sul (UFRGS). No seu primeiro ano de faculdade publicou seu primeiro poema na revista da Faculdade de Comunicação. Carpinejar também ganhou muito destaque, além de seus obras literárias, por seus vários blogs onde publica muitos de seus textos e escreve sobre outros assuntos pertinentes, como futebol, e é também muito requisitado para participar de eventos e dar palestras. No início, Carpinejar trabalhou na imprensa, e em 1998 publicou seu primeiro livro: “As Solas do Sol”. Desde então, Carpinejar também escreveu diversas obras, entre elas: "Meu filho, minha filha", "Canalha", "Diário de um apaixonado", "Mulher perdigueira" e outros e foi agraciado por muitos prêmios, como o "Prêmio Nacional Olavo Bilac" da Academia Brasileira de Letras no ano de 2003.

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