Nas entrelinhas: "É cada taxista que me aparece – 5"

terça-feira, abril 02, 2013




- Vou te contar… É cada uma que acontece com a gente, sabe?

Era muita sorte! Nesse dia eu me encontrava interessadíssima numa boa prosa, estava realmente disposta a levar uma conversa frouxa. E o taxista que me pegou no Leblon soltou a pérola assim que dei o itinerário.

Os que me acompanham aqui no blog sabem que normalmente estou cansada ou ocupada quando me deparo com um taxista tagarela. Não naquela tarde chuvosa. Eu era toda ouvidos. E quase respondi “Ô, se sei! Criei uma série justamente com esse título para meus diálogos com taxistas”. Mas não disse muito. Apenas o bastante para que o papo seguisse solto.

- Sei. Impressionante, né? Dá um exemplo? – pedi, louca pra saber o que tanto acontecia com ele por essas andanças da vida.

- Não sei mais o que fazer com meu vizinho. O meu vizinho… ele não é brincadeira, não.

Opa! Histórias de vizinhos são ótimas!

- Por quê? O que ele faz?

- Sabe festa de piscina? Em que as mulheres ficam de fio dental se lambuzando com blondor nas pernas e nos pelinhos das partes íntimas?

Não. Eu não sabia. E se soubesse teria medo. Mas, como narrei no primeiro parágrafo, estava supersimpática.

- Sei, claro.

- Precisava ver. Música alta, cerveja gelada, churrasco de primeira, jiló mergulhado na mostarda de belisquete, o povo fazendo tchibum na piscina, dançando funk coreografado, tudo correndo na mais perfeita ordem até que a gente ouve um grito. Depois outro. E mais outro. Três gritos. Aí deu polícia e… taquiupa!

Taquiupa o quê? Taquiupa o quê? Fiquei tensa. Foram todos pro xilindró? Ou os policiais se juntaram aos convidados para dançar funk coreografado? Mergulharam o jiló na mostarda? Ou teve crime? Sangue? Morte?

- Pior mesmo só a festa de formatura da amiguinha da minha filha!

Não! Ele ia me deixar sem resposta! Logo naquele dia, que eu estava toda conversada, o motorista resolveu me deixar no vácuo no melhor da história.

- O pai dela fechou uma casa de festas, botou segurança na porta, contratou a Gaiola das Neuzudas…

- Neuzudas?

- É mistura de Neuza com popozuda.

Ah, tá.

Continuou, sem respirar:

- Daí chegaram uns jogadores de futebol e um povo do pagode. Um dos jogadores parece que quis ficar de saliência com a menina, o pai se enervou, rolou bate-boca, confusão, gente correndo sem sapato, mas quando chegou o avô da menina… taquiupa!

Taquiupa não! Continua! Quem eram os jogadores de futebol? Tinha algum famoso? Alguém se feriu na correria sem sapato? Correria sem sapato é óóótimo, pensei. Mas e a amiguinha da filha dele? Pegou o tal jogador que queria saliência? QUEM ERA O JOGADOR?! E qual o problema com o avô? Avôs são tão fofos!

- Moço, por favor, o senhor precisa dar mais detalh… – tentei.

- A minha vida é uma comédia, a senhora sabe?

Ok, entendi. Ele não era do tipo que dialoga. Era do tipo que monologa. Cabia ao passageiro ansioso por um bate-papo se contentar em ficar no mais profundo silêncio. Droga! Justo naquele dia que eu exalava bom humor!

- Ontem mesmo teve o negócio do frango assado.

Frango assado? Essa parecia boa. Até como nome de crônica: “O negócio do frango assado”.

- Sabe frango de padaria, né? Tenho um outro vizinho que é dono de umas padarias lá no bairro. O cara tem grana, se dá bem com a rapaziada da vizinhança mas é um cara que… como é que eu vou explicar? Melhor não discordar dele, a senhora entende?

- Entendo, claro! – respondi, empolgada com as cenas dos próximos capítulos.

Aquele caso, sim, prometia!

- O frango assado dele tem fama boa, mas um dia o dono da granja onde ele compra as galinhas foi lá comer e reclamou do sabor, achou gorduroso, disse que cheirava a lixo, a lixo!, que as galinhas dele não tinham morrido praquilo, que aquilo não era comida, que não era coisa de Deus. Me-ni-na! A senhora precisava ver! O meu vizinho ficou pau da vida, tirou o frango assado da mão do dono da granja e… taquiupa!

Taquiupa? De novo o taquiupa me atrapalhando bem no clímax? No auge? Que ódio!

- Tá de saca! – soltei, já que ele era chegado a uma abreviação.

- Tô nada! – devolveu, já encostando o carro.

Havíamos chegado ao meu destino. Mas eu queria vingança.

- O senhor não sabe, agora mesmo vou jantar com um casal famosérrimo de atores. Os dois estão pra se separar. Teve um barraco que o senhor não faz ideia. Bafão!

- Quem é o casal? Qual foi o barraco? – quis saber, todo curioso.

Respirei fundo e enchi a boca pra responder:

- Soube não? Taquiupa!

Sobre a autora: Thalita Rebouças é uma jornalista e escritora brasileira que escreve livros direcionados ao público adolescente. Sua carreira começou em 1999, mas ela só ficou conhecida do grande público em 2003, quando passou a publicar seus livros pela editora Rocco. Desde então, lançou 12 títulos e já vendeu mais de 1 milhão de livros. Em 2005, começou a assinar a coluna Fala Sério! na última página da Revista Atrevida. Fez faculdade de Direito durante dois anos, mas após este período resolveu cursar jornalismo. Trabalhou como jornalista na Gazeta Mercantil, Lance! e TV Globo, entre outros. Como assessora de imprensa trabalhou na FSB, no Rio de Janeiro, no Guarujá e em Nova Iorque. Em 2009 ela deu o primeiro passo rumo à sua carreira internacional, lançando seus primeiros livros em Portugal. Sua carreira é marcada pela paixão, pelo contato com o público e pela participação intensa em feiras de livros, autografando sempre todos os dias durante as bienais do Rio e de São Paulo. No YouTube há vários vídeos que mostram o entusiasmo do público com a escritora, além de entrevistas que ela deu a programas de TV, como o Programa do Jô. Thalita também fez várias participações em programas da TV Globo, sempre relacionadas ao público adolescente e atualmente onde faz o quadro EE de Bolsa, do Esporte Espetacular. Em julho de 2011 a escritora ultrapassou a marca de 1 milhão de livros vendidos.

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