Nas entrelinhas: Essa não é uma carta de amor.

quarta-feira, março 12, 2014


Querido, 

A chave que ficou com você já pode ser jogada no lixo. Mudei a fechadura (da porta da frente, da dos fundos e do meu coração). Não se preocupe em guardá-la para um momento de distração: este brinquedo já saiu da sua estante. Pode jogar fora também os presentes que lhe dei. Se ainda lhe resta qualquer indício de carinho por nós, destrua todos os meus resquícios, que é para não correr o risco de lembrar de mim em uma manhã de domingo pós-balada, quando você acordar sozinho e sentir falta de um beijo na nuca. Não me ligue. Nem no dia do meu aniversário, nem para saber se ainda estou vida, nem nada.

Me esqueça.

Jogue fora nossas memórias. Diga para sua mãe que mudei para algum lugar bem longe e já não poderei visitá-la. Conte que perdeu o contato comigo e que não encontra meus perfis nas redes sociais. Entenda, não quero mais nenhum tipo de ligação com você. Então, excluí do Facebook os seus amigos, toda a sua família e o seu patrão (que insistia em dar em cima de mim quando você não estava olhando).

Mudei nossos lençóis (meus lençóis). Te tirei da minha cama e, às vezes, penso até em trocar de colchão. Você sabe, depois de todos estes anos, seu corpo acabou marcado no quarto inteiro e, pela noite, sem querer, escorrego para o seu lado da cama e ainda sinto o seu calor. Por isso, queria te fazer um pedido: troque de lado. Durma em outras posições. Quem sabe, assim, nossos inconscientes entendam que nós dois não encaixamos mais. Ao contrário: nossos corpos, agora, repelem.

Eu não te odeio, não é isso. Quem dera fosse, porque aí, talvez, o ódio ainda indicaria qualquer sinal de amor. Mas é raiva, querido. Só raiva por ter me feito de besta por tanto tempo acreditando em você. Raiva de mim, é claro, que a idiota fui eu. Então, não é que eu não queira lhe ver nem pintado de ouro. O que eu quero, de verdade, é que você exploda.

Exploda os abraços que passaram, os beijos que não duraram, a minha mania escrota de te acordar com o café da manhã na cama. Exploda os segredos que dividi, as lágrimas que enxuguei e as noites em que fiquei te esperando, jurando - jurando! - que você estava apenas trabalhando até tarde. Trabalhe, querido. O quanto quiser, até a hora que desejar, com muitas mulheres, e depois, ah depois!, volte pra uma casa vazia, sem jantar, sem cama arrumada, sem carinho, sem meus braços e sem amor. Volte, querido. Para o seu inferno particular chamado solidão.

Quanto a mim, apenas me deixe. Me deixe no passado, me deixe com meus chifres, me deixe com minha raiva, me deixe com a minha luta diária para voltar a acreditar em qualquer pessoa depois de você. Me deixe, que eu posso ser tudo (burra, iludida, idiota, apaixonada), mas fraca eu não sou. E eu levanto, eu sigo em frente, eu conheço outros caras, eu reconstruo minha vida, eu te tiro à força das minhas memórias e supero os cortes que você me fez. Eu te expulso da minha casa, eu pinto as paredes, eu abro a tampa de qualquer pote, eu arranjo noites de sexo melhor que você, eu me basto e sou feliz sozinha.

Porque eu só quero mesmo que nossa história exploda.

E que você, ah querido, que você se foda.

Sobre a autora: Karine Rosa - Quase jornalista, quase 22 e quase gente grande. Um rascunho de escritora que fica por aí acreditando nas pessoas, nos sonhos e no lado bom das coisas. Daquelas pessoas - loucas - que acham que o amor resolve tudo. Tudo. http://www.karinerosa.com/

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