Nas entrelinhas: As lembranças que tenho dela.

terça-feira, outubro 01, 2013


Você sabe que não deve fazer cócegas nelas porque a machucam? Sabe a diferença dos seus sorrisos sarcásticos e felizes? Sabe que não deve opinar sobre sua família, nem falar mal dos seus antigos namorados? Só de mim, eu sei. Creio que você não tem ideia do que é dormir com ela. Dormir, não foder. Foder também. Mas dormir. Dormir e acordar ao lado dela. A vida dela é torta. Não se esqueça disso. Ela sempre acorda com sono, mas quase duas da madrugada, fica se remexendo na cama caçando o tal sono que perdeu pela manhã.

Pra ela tudo tem nome de “coisa”. O controle remoto é uma “coisa”. A bolsa é uma “coisa”. O talher é uma “coisa”. Até o cachorro é uma “coisa”. Certa vez, ela disse mô-tô-sentindo-uma-coisa-estranha. Pra mim era um mau pressentimento. Ou fome. Ou cólica. Sei lá. Era amor. Amor-coisado, ela disse.

Ela é toda sinais. Corta o cabelo quando quer mudar de vida. Mais de cinco centímetros é porque ela quer revolucionar o mundo. Cuidado nesses momentos. As cores das unhas e das lingeries determinam sua libido. Quando põe batom, pensa em beijar. Brilhos nos lábios também. Saiba disso, cara.

Mas ela também sabe fingir. Vai fingir não se importar, ser forte, ser sabida ou esperta. Vai fingir até que não precisa de você, mesmo quando ela estiver com trinta e nova de febre e batendo recordes de espirros por segundo. Não ligue. É porque ela não quer que você a encontre com o nariz todo vermelho, tossindo feio e com a garganta inflamada. Mesmo sem ela deixar, vá visita-la e cuide dela. Por mim e por você.

Ela fuma quando fica brava ou quando bebe. Bebe quando quer, sem ocasiões especiais. Certo dia acordou num domingo bebendo vodca no café da manhã. Mas ela sabe aproveitar um belo achocolatado também. Vai parecer durona, vez em quando. Mas é menininha, vai por mim. Faça carinho na bochecha. Ela não irá resistir.

Ela não se importará em dividir a conta. Caso você proponha pagar tudo, ela não deixará, mas mesmo assim ficará feliz com a tua atitude. E com um tempo, ela irá pagar a conta também. Muito provavelmente, em alguma quarta-feira qualquer, irá te ligar no meio do expediente só para te passar uma notícia boa e vai dizer quer deseja comemorar no restaurante predileto dela: o japonês na esquina de sua casa. Vai se impressionar com um tanto que ela consegue comer por segundo. Ela gosta de molho teriaki e de sashimi. E não sei se já aprendeu a comer com hashi. Acho que não. Ofereça ajuda.

Ela é tão homem quanto todos os homens. Gosta de coxas, bunda, barriga e virilhas. Quando vai à praia, costuma reparar no volume das sungas alheias e comentar com amigas. Mas ela se apaixona mesmo é por bocas. Lábios, sorrisos, mordiscadas e palavras.

Quase sempre apaixona-se por homens de humanas. Adora ouvir sobre psicologia, política, literatura e cultura pop. Mas não fale feito um tolo. Saiba ouvir também. Caso você ainda não esteja apaixonado por ela, vai ficar encantado quando ela começar a falar sobre suas poesias, Rimbaud, Manoel de Barros e sobre sua vontade de se entender. Ela vive num eterno questionamento sobre si. Faz besteiras e logo se arrepende. Mas acredita que todo erro existe para a aprendizagem. Não a julgue por isso. Nem tente entendê-la.
Por fim, apenas entenda e aprenda que sem ela, você será como eu: um prisioneiro eterno das lembranças.

Sobre o autor: Hugo Rodrigues, capricorniano esquecido. Autor do romance “Um Sorriso de Oito Graus na Escala Richter” e, atualmente, produzindo mais dois livros: “Mulheres, Malditas Maravilhas”, (dez/2013) e “Na Décima Nuvem” (jul/2014). Para os próximos anos, surgirão os impressos “Ramon” (2015) e “Rascunhos Nus” (2016), um apanhado de contos, poemas e frases. O carioca é colaborador dos sites Entenda Os Homens, Casal Sem Vergonha e Isabela Freitas. Além disso, é colunista da revista O Flu, do jornal O Fluminense, do Rio. http://hrodrigues.com

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