Nas entrelinhas: Entre o começo e o fim

quarta-feira, novembro 12, 2014


Quando alguém me pede para me lembrar de você, não me lembro do nosso primeiro beijo. Do primeiro encontro, o primeiro abraço, o primeiro eu-te-amo. Não me lembro dos últimos também. Não me lembro da primeira vez em que você visitou a casa dos meus pais, todo sem graça, sem saber direito como agir com aquele que, na época, durante nossa adolescência, tinha poder pra te mandar pra bem longe. Nem lembro de quando você bateu a porta e me deixou em meio a tantos questionamentos: "que raios eu tinha feito de errado pra você deixar de me amar, assim, do nada?" (sem saber que, na verdade, a gente deixa de amar aos pouquinhos).

A primeira coisa que me vem à cabeça quando alguém fala seu nome não é nosso começo conturbado, nem nossos fins reticentes. É o nosso meio. É ali que eu te encontro. Naquele durante em que eu já te conhecia o suficiente para te amar como louca, mas sabia pouco da vida e, por isso, não tinha deixado de te amar ainda. 

Eu me lembro dos sorrisos que você me dava tarde da noite, na escuridão do quarto, antes da gente cair no sono no meio de uma semana qualquer. Eu me lembro das conversas sem sentido que a gente tinha depois de ver um filme com alguma reflexão filosófica no fim. E do quanto a gente sempre gostou de ler livros ao mesmo tempo para, depois, poder discutir o que cada um achou sobre ele. 

Eu me lembro de você na rotina, no dia a dia, de segunda-a-sexta, quando a vida não era tão feliz e fácil como nos finais de semana. Porque eu sempre achei que tinha um pouco de vitória nos casais que conseguiam se amar na normalidade da semana, na ausência de grandes novidades, no amor sem grandes declarações. 

Foi no meio que você me disse que eu era um pouquinho a sua salvação. "É por sua causa que eu vou passar nessa vida acreditando no amor. Porque tem coisa mais triste do que viver todos os dias e não acreditar nisso?". E eu nunca te disse de volta que você tinha me salvado também. Amar você, ainda que por tempo determinado, foi saber que o amor existe. O louco, o desenfreado, e o calmo e tranquilo. O amor que queima e o amor que apaga. Você me mostrou os dois.

Eu não sei te odiar pelo fim porque eu sempre lembro do entre. Entre o "eu te amo" e o "me esquece". Entre o "pra sempre" e o "nunca mais". Entre o "casa comigo?" e o "vou providenciar os papéis do divórcio". Entre o "eu cuido de você" e o "se cuida". Entre o "o único amor da minha vida" e o "foi só meu primeiro amor". É pelo o que existiu entre os nossos extremos que eu te amei tanto. E é também por ele que, de alguma forma que eu não sei como explicar, eu continuo amando: a lembrança do quanto a gente foi feliz.

Sobre a autora: Karine Rosa - Quase jornalista, quase 22 e quase gente grande. Um rascunho de escritora que fica por aí acreditando nas pessoas, nos sonhos e no lado bom das coisas. Daquelas pessoas - loucas - que acham que o amor resolve tudo. Tudo. http://www.karinerosa.com/

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